Saturday, December 26, 2020

Os trólebus do Metrô Santa Cruz (775T, 577U e 6345)

 Este vai ser uma postagem diferente: uma cronologia. Como não tenho tanto tempo para comentar muito, graças as fortes chuvas que vem aí, vamos relembrar as linhas de trólebus 775T, 577U e 6345, que iam do Metrô Santa Cruz ao Pinheiros, Butantã e Terminal Parque Dom Pedro II. Começando... 

1979 – Era aprovado o Plano Sistran pelo governo Olavo Setúbal, onde previa a aquisição de 1200 trólebus, ou seja, 450 articulados (mas infelizmente, ficou apenas nos dois trólebus articulados 8000 e 8001, embora dois veículos Mafersa tenham sido testados) e 750 padron. Neste plano, previa a instalação da linha Santo Amaro – Vila Mariana, que pegaria o corredor Ibirapuera – Vereador José Diniz. No entanto, o projeto NEM SAIU DO PAPEL, preferindo optar pela criação da linha Santo Amaro – Bandeira, hoje a 6500/10. O ramal entre Santa Cruz seria para Pinheiros, pegando trechos em ruas onde o ônibus a diesel não chegava (ou chegava, tanto que tínhamos a 775V?)

1982 – Início da operação da linha 775T Metrô Santa Cruz – Pinheiros, utilizando os Marcopolo San Remo Scania BR-116 e tração Tectronic. Não tenho tanta coisa para comentar desta época, até porque não era nascido nos anos 80.

1986 – Com a construção do corredor Santo Amaro – 9 de Julho no final do ano, os San Remo saem tanto da linha 6500 quanto da 775T. Ambas as linhas passaram a operar a DIESEL, enquanto o corredor era construído.

1987 – A linha 775T volta a operar com trólebus, desta vez com os Mafersa M210 Villares, seja a pintura do prefeito Mário Covas ou a pintura londrina do Jânio Quadros.

1992 – O primeiro governo petista, chato, apelão e corrupto demais, resolve fazer a bagunça. Os trólebus são novamente retirados de circulação entre a Parada Afonso Braz (Corredor Santo Amaro) e o Metrô Santa Cruz, inclusive colocando em hiato a rede aérea das ruas Joaquim Floriano e Tabapuã, que vez ou outra nos anos 90 (pelo menos até o dia 30/05/1998), passa a ser utilizado para o PAESE elétrico da linha 637P Term. Santo Amaro – Pinheiros que na época era operada por ônibus a diesel. Com isso, a 775T passa a operar com Mafersa a diesel e alguns monoblocos Mercedes-Benz O365, o mesmo da 637P e de outras linhas.

1993 – Com Paulo Maluf eleito, começa a privatização da CMTC. Adivinhem para onde a 775T foi? De acordo com um busológo extremamente nostálgico que é uma enciclopédia de linhas de ônibus, tendo um blog dedicado ao assunto, a linha passou a ser operada pela Transkuba ou pela Santa Madalena, esta última utilizando cabritos e monoblocos Mercedes-Benz O365 em sua operação.

1995 – Em data incerta (provavelmente um sábado, já que a Prefeitura até hoje sempre faz anúncios de mudanças de linhas ou de obras neste dia), Maluf começa a fazer inversão de mãos em várias ruas da Vila Clementino (entre elas, as ruas Borges Lagoa e Pedro de Toledo, a primeira era sentido Ibirapuera e a segunda sentido Domingos de Moraes, não sei quanto a rua Loefgren). Com isso, a 775T é extinta, com a recém-fundada SPTrans alegando que as opções de linha são a 875C Lapa – Metrô Santa Cruz (existente ainda hoje) e a 775V Rio Pequeno – Praça da Árvore (em 1997, também foi encurtada no Santa Cruz, talvez por causa da Linha 1 Azul ajudar na demanda). A mesma coisa seria alegada pela Martaxa ao cancelar as linhas 577U e 6345 no futuro (ler abaixo), mas vamos para a era do Celso Pitta.

1998 – Depois de um hiato de aproximadamente 6 anos, em 30 de maio de 1998, o ramal entre Pinheiros e a Parada Juscelino Kubitscheck volta a ser operado por trólebus. Desta vez, a Viação Santo Amaro do lote 67 assume a linha 637P, que passa a ser operado por 23 veículos Neobus Mega Evolution Mercedes-Benz O371 UL e tração Gevisa (os 14 restantes operavam nas linhas 6500 e 2001 Term. Princesa Isabel – Term. Bandeira). Pitta, que mostrou que era o único que podia investir em trólebus ao lado do Maluf (futuramente o Kassab, conhecido pelo bordão de Vagabundo dito a um homem que protestava contra a Lei Cidade Limpa), após a privatização da CMTC, começa a reinstalar a rede aérea entre a parada Afonso Braz e o Metrô Santa Cruz.

1999 – Em data incerta (provavelmente um sábado, já que a Prefeitura até hoje sempre faz anúncios de mudanças de linhas ou de obras neste dia), a promessa de voltar com os trólebus no Metrô Santa Cruz finalmente é cumprida quando a Eletrobus se interessa pela operação da linha 577U, que ia até o Butantã, nos arredores da USP. Nesta época, a Eletrobus disputava com a Transbraçal na Rua Augusta, na Av. Cidade Jardim e no Jockey Clube, operando as linhas 207U Term. Aricanduva e 307U Tatuapé-CERET. Segundo Renato Lobo do portal Via Trólebus numa comunidade do falecido Orkut, a 577U operava nesta época com 10 veículos de prefixos 68 7719 ao 68 7728 (Marcopolo Torino GV Scania BR-116 e tração Powertronics IGBT).

2000 – No dia 8 de abril, começa a operar a variante da 577U (código 41), que ia até Pinheiros e com cinco veículos que antes tinham a propaganda do Baby (68 7761 ao 68 7766). Mas a situação se inverte em pouco tempo: foi ampliada a frota para Pinheiros e poucos trólebus iam de fato até Butantã.


2001 – Tudo indica que nesta época, a Eletrobus estava sob nova direção (e a Prefeitura também, ou seja, mais um governo petista querendo mostrar sua ganância, tanto no SPTV quanto na Folha de S. Paulo). A frota já não estava mais padronizada como antigamente, com os trólebus de pintura comemorativa dos 50 anos e os Volvo série 79 de portas elevadas sendo vistos nas linhas da Zona Leste e na 4112 Santa Margarida Maria – Praça da República (ao invés das tradicionais 408A Machado de Assis – Cardoso de Almeida e 9300 Term. Casa Verde - Term. Parque Dom Pedro II) e os Circular Central sendo vistos em outras linhas fora do centro. Na 577U, além dos Circular Central, até o Marcofersa 68 7811 chegou a ser visto operando na linha! E eu cheguei a ver com meus próprios olhos, já que morava perto da 577U, que naquela ocasião passou definitivamente a ir até Pinheiros no dia 1º de outubro. Nesta época, os dois trólebus articulados 8000 e 8001 não operavam, devido ao fato de terem sido veículos exclusivos para testes no Fura-Fila.

2002 – Este ano marca como o início do fim. Mais do que nunca, já que a Martaxa estava desenvolvendo o sistema Interligado junto com o Carlos Zarattini (PT). Inicialmente, o sistema Interligado seria um híbrido de Municipalizado (criado pela senhora Erundina) com o próprio Interligado, já que foram criadas 8 áreas de atuação. A Eletrobus deixa de operar e entra no lugar o Consórcio Aricanduva, que também tomou o lugar da Viação Cidade Tiradentes. Na linha 577U, os veículos série 77 eram vistos com o prefixo 410, posteriormente como 468. Mas a cartada final é dada no dia 27 de setembro, quando a 577U é cancelada para dar lugar no dia seguinte à 6345 Terminal Parque Dom Pedro II – Metrô Santa Cruz (Circular), operando com os série 79 com portas elevadas a esquerda (Marcopolo Torino GV Volvo B58, tração Powertronics). A linha fazia um trajeto bem diferente: fazia o mesmo trajeto da 2002 até o Terminal Bandeira, depois pegava o Corredor 9 de Julho, parando na mesma plataforma das linhas 6500 e 637P (e também dos biarticulados da Campo Belo / Transkuba nas linhas 6450 e 6451), e por fim fazendo o mesmo trajeto da 577U até o Metrô Santa Cruz, quando voltava com o procedimento de sem esvaziar passageiros, como faz até hoje a 2002.


2003 – Mais uma vez, a Garagem do Tatuapé ganha uma nova empresa, a Viação Capital. E a frota elétrica que estava despadronizada, é despadronizada cada vez mais, quando são vistos mais trólebus série 79 na linha 6345, vários deles sem portas a esquerda (os de prefixo 468 7920 a 468 7936). O impensável ocorre quando o sistema Interligado é criado limitando a livre concorrência para 40 empresas de ônibus (sendo parte delas cooperativas), e então a linha 6345 é extinta. Pensa que acabou? A Martaxa ainda mandou retirar a rede aérea em prol da construção do corredor de ônibus na Av. Ibirapuera, que era para ter sido construído junto com o Corredor Itapecerica – João Dias (inaugurado em 2000). Era declarado a guerra aos especialistas em eletromobilidade. Em setembro, as linhas 6500 e 637P tiveram os trólebus retirados totalmente de circulação, e no dia 20/12/2003, Martaxa e o secretário de transportes J.T. (apenas uma abreviatura) fizeram outro absurdo: a retirada dos trólebus dos bairros de Pinheiros e Butantã.

Dúvidas? Responda aqui nos comentários. Em 2021, você terá mais postagens detalhando o passado e o presente do sistema trólebus não só em São Paulo, mas também no Corredor ABD e em Santos. Não tenho tempo pra mais nada, até porque o ano está acabando. Tchau!

 

 

1 comment:

  1. Um crime a extinção do 107P. Deixou Jardim Paulistano sem um único ônibus. Para chegar só andando por um emaranhado de ruas mal iluminadas.

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